segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Encerramento



Prezados (as),

Informamos que após 15 anos de funcionamento, a Clínica LinaVida encerra seus trabalhos em 20 de setembro 2012.

A psicóloga Carolina Freitas está de mudança para Goiânia, onde seguirá com seu trabalho.

Por ora, serão mantidos este e-mail psicologacarol@hotmail.com e o celular (61)92915244 para qualquer contato que precisem. O novo blog será http://psicologacarolinafreitas.blogspot.com.br/

Agradecemos a parceria de todos(as) vocês e os(as) aguardamos em Goiânia!

Equipe LinaVida


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Informativo 10 Set 2012



A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo, diz OMS

Relatório afirma que um milhão de indivíduos decidem tirar a própria vida a cada ano. Entre jovens de 10 a 24 anos, esta é a segunda maior causa de morte

Redação Época com Agência EFE

A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo. Ou seja, por ano, um milhão de indivíduos decidem tirar a própria vida. Atualmente, 55% destes têm menos de 45 anos idade - em 1950, por outro lado, 60% dos suicidas eram mais velhos que isto. Os dados são de um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado nesta sexta-feira (7).

O suicídio é a terceira causa de morte mais recorrente entre as pessoas de 15 a 44 anos. Já entre os jovens de 10 a 24 anos, o suicídio constitui a segunda maior causa de morte. Os índices entre os jovens aumentaram tanto que em um terço dos países esta faixa de idade é considerada a de "maior risco" pela OMS.

"As causas exatas do porquê desta mudança de tendência não sabemos. É um fenômeno que afeta todos os países e que está aumentando, mas as razões principais não as conhecemos, são muitas, variadas e mudam muito de caso a caso", disse Alexandra Fleischmann, do departamento de Saúde Mental da OMS.

Em geral, as mulheres realizam mais tentativas de suicídios do que os homens, mas estes são mais efetivos porque usam métodos mais radicais (como armas de fogo ou pesticidas) do que elas, que abusam de remédios.

Os fatores que determinam uma tentativa de suicídio são múltiplos e variados - psicológicos, sociais, biológicos, culturais e ambientais -, mas, generalizando, a OMS afirma que as desordens mentais (depressão e uso desproporcional do álcool, especialmente) são um fator maior de risco na Europa e nos Estados Unidos, enquanto nos países asiáticos o impulso "representa um papel essencial".

"Por exemplo, nas zonas rurais da Ásia há um grande problema com os pesticidas. Em uma situação de desespero, os agricultores tomam impulsivamente o pesticida e morrem rapidamente", afirmou Alexandra.

"Além disso, nas zonas remotas, o acesso aos estabelecimentos de saúde é muito mais difícil. Se a tentativa de suicídio é realizada em um apartamento de uma grande cidade desenvolvida, essa pessoa pode ser levada de urgência a um hospital e ser salva", disse.

Com relação à América Latina, a região mantém tradicionalmente baixos níveis de suicídios, apesar de existirem grandes diferenças entre os países, como revela o 1,9 por cada 100.000 homens peruanos que tiram a própria vida, frente aos 26 por cada 100.000 dos homens uruguaios.

"Tradicionalmente as taxas na América Latina se mantiveram baixas, mas vemos a mesma tendência que no resto do mundo, ou seja, o aumento dos índices, sobretudo entre os jovens", afirmou a especialista.

Alexandra explicou que os recentes estudos revelam que apesar dos países escandinavos continuarem tendo altas taxas de suicídios, o fenômeno se estende na Europa do Leste e, particularmente, na Ásia, "em grandes países como China e Índia, com uma grande população e com imensos problemas ligados ao desenvolvimento e à globalização".

Consultada sobre o aumento de suicídios relacionados à crise econômica que afeta alguns países da Europa, Alexandra afirmou que, na maioria dos casos, as pessoas que os cometeram eram previamente "vulneráveis", e a pressão só exacerbou a situação.

Perante isto, a OMS recomenda atuações multidisciplinares, como a formação do pessoal de educação e saúde, a restrição do acesso aos métodos (pistolas, pesticidas, remédios), "cuidar" da apresentação pública dos casos (evitar publicá-los na imprensa), entre outros.

A especialista alertou sobre o perigo que representa a falta de consciência sobre a importância do problema e o fato de que seja um tema tabu em muitas sociedades.  

Fonte: http://revistaepoca.globo.com

Saiba sobre a 1ª. Jornada de Prevenção 
do Suicídio do Distrito Federal

domingo, 2 de setembro de 2012

Castos em Nome de Deus


Castos em nome de Deus 

Em uma sociedade de sexualidade aflorada, o celibato não é uma opção simples. Um grupo de jovens, porém, acredita na virtude de se guardar até o casamento

Rafael Campos

A estudante Jéssica Rocha, 21 anos, namora há três. Sonha com um matrimônio envolto em todos os pormenores que antecedem o "sim" e, como representação da sua castidade, vestirá branco ao subir no altar. "Antes mesmo de começar a namorar, eu e ele decidimos assumir o compromisso de que só iríamos ter relações sexuais depois do casamento. E estamos esperando isso", explica. O irmão, Thomas Rocha, 15, segue o mesmo caminho e, mesmo sem namorada, quer encontrar na mulher da sua vida, alguém que entenda e compartilhe da sua escolha de aguardar a troca de alianças para experimentar o sexo. "Me inspiro nos meus pais, que também se casaram virgens: se deu certo para eles, por que não daria para mim?", questiona.

Os irmãos cresceram em uma família na qual a castidade é um valor fundamental. E, mesmo a liberdade sexual sendo uma característica tão disseminada na contemporaneidade, conseguiram encontrar pessoas que compartilham do mesmo pensamento. Os dois fazem parte do "Eu escolhi esperar", um grupo ecumênico formado por jovens que se abstêm do sexo até o casamento.

A comunidade conta hoje com mais de 128 mil seguidores no Twitter e 638 mil fãs no Facebook. "Acredito que essa espera vai fazer com que eu conheça mais ainda o meu companheiro. Eu assumi essa vontade e sigo os princípios religiosos que a definem", declara Jéssica. O criador da iniciativa, Nelson Júnior, 35 anos, casou-se virgem, há 14, e hoje tem duas filhas. É teólogo e trabalha com adolescentes há 20 anos.

Para ele, a liberdade sexual deu margem a comportamentos que geram consequências graves, como o aumento dos casos de gravidez na puberdade. De acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde, 20% das crianças nascidas no país são filhas de menores de idade. Nelson acredita que, em nome da liberdade, ocorrem muitas distorções, como o desenvolvimento precoce da sexualidade. "Se existem tantas campanhas e movimentos pela vida, contra o câncer, contra as drogas e o racismo, por que não há uma campanha para fortalecer essa turma? Foi assim que começamos essa mobilização", lembra.

Nelson usa a expressão "esperar no Senhor" para explicar o sentido da decisão baseada em preceitos religiosos, e acredita que, ao restabelecer os valores bíblicos, promove um plano que visa garantir casamentos duradouros. Para a psicóloga Juliana Borges Fiúza, especialista em sexualidade, a mudança no significado da virgindade é reflexo de uma sociedade que debate mais abertamente a questão. Antes, a mulher se mantinha virgem como forma de submissão ao futuro marido. Em contraponto, os homens eram estimulados a transar cedo — muitas vezes, eram levados a prostíbulos pelos próprios pais.

"Os integrantes do movimento "Eu escolhi esperar" não negam o sexo, mas o colocam em um lugar que o transforma num presente divino. A virgindade, antes, tinha outro significado. Hoje, a manutenção dela causa choque justamente por estarmos inseridos em uma realidade que estimula o sexo", analisa a psicóloga. Juliana acredita que essa opção pode ser saudável, desde que não seja uma imposição.

Como era de se esperar, os adeptos se mostram convictos da escolha. O estudante André Tarão, 27 anos, mantém seu voto há uma década. "Deus fez o sexo para o ser humano: para a diversão, para a procriação. Talvez por ele ser tão bom, acabe supervalorizado e, assim, muitos precipitam as coisas. Não quero viver apenas uma experiência que não vai fazer diferença", justifica. E emenda: "O que queremos, no casamento, é restaurar o ideal de família. Na minha geração, dentro e fora da igreja, há muitos lares desfeitos. Talvez, nem tudo seja por conta de fazer sexo antes da hora, mas os casais se separaram e a gente quer mudar essa situação".

A virgindade ao longo dos tempos
Na Grécia antiga, a primeira vez da mulher acontecia com o deus Príapo. Na verdade, havia um costume de as virgens se sentarem em um grande pênis de madeira que representava o deus, na esperança de se tornarem mais férteis. O instrumento avantajado era, de acordo com o que é contado, uma retaliação de Hera contra a mãe de Príapo: ela fez com que o menino nascesse com uma deformidade. A sociedade grega clássica acreditava que as mulheres virgens detinham poderes mágicos. Tanto que, no famoso Oráculo de Delfos, o contato com os deuses era feito por meio da virgem Pítia.

Se na Grécia antiga era Príapo quem desvirginava as moças, na Idade Média, os livros de história apontam que os reis e os senhores feudais eram donos desse privilégio. Ou seja, antes do marido, outro homem consumava o casamento. Há, inclusive, relatos de tribos primitivas em que o pai da noiva era quem tirava a virgindade da moça. Nessa época, também, acreditava-se que a figura mítica do unicórnio só poderia ser domada por uma mulher virgem.

No Brasil, durante o século 19, a virgindade era um item indispensável para que uma mulher conseguisse um marido. Tanto que, após a primeira relação, era comum que os pais saíssem mostrando o lençol sujo de sangue: o foco aqui não era na violência do ato, mas na prova que, se sangrou, sua filha era, de fato, virgem.

O culto à virgindade gerou, inclusive, um reality show nos Estados Unidos. Em The virgin diaries (Os diários dos virgens, em tradução livre), homens e mulheres na casa dos 30 anos são acompanhados a partir do momento em que se casam. O detalhe é que todos são virgens, alguns até mesmo "de beijo". O assunto é recorrente na sociedade americana. Tanto que os ídolos teens sempre causam comoção quando deixam de usar seus anéis de castidade, algo que aconteceu com os Jonas Brothers e com a cantora Selena Gomez. Ela, inclusive, foi mais criticada por ser católica fervorosa e ter deixado o anel de lado quando começou a namorar o astro Justin Bieber.

Força espiritual e necessidade física
Como qualquer pessoa, os partidários da espera também têm suas urgências sexuais e, isso, dentro de um relacionamento, é algo difícil de controlar. "É muito complicado esperar e quem disser o contrário estará mentindo", garante Otávio Gomes Guimarães, psicólogo, de 27 anos, que também resolveu esperar. Assim como outros membros da comunidade, ele segue algumas regras que ajudam a manter o compromisso. "Não vemos filmes com teor sexual, muito menos pornografia. Quando namoramos, tentamos não ficar sozinhos. E não nos masturbamos porque isso aflora ainda mais a sexualidade", confessa.

A ginecologista e sexóloga Sílvia Cavalcante, presidente da Comissão Nacional de Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), garante que esperar pelo sexo não traz consequências à saúde, mas é contra negar a masturbação. De acordo com a especialista, esse é um momento em que o adolescente conhece o próprio corpo — o ato é extremamente importante para que ele possa saber o que buscar em suas futuras relações. "Não posso julgar as crenças religiosas, mas se a pessoa não se conhece bem, dificilmente vai mostrar ao parceiro o que gosta. E para a mulher entrar muito crua no casamento pode tornar a experiência ainda mais difícil."

Os membros do "Eu escolhi esperar" parecem não se importar com essas possibilidades. Só que, muitas vezes, para domar o desejo e manter o voto, precisam tomar atitudes enérgicas. Stéphanie Vieira, 24, uma das coordenadoras do grupo, está casada há quatro anos e meio — meses antes da cerimônia, ela e o marido acordaram abdicar de todo e qualquer contato físico. "É sempre complicado, pois vivemos na expectativa por esse momento. Era algo que queríamos muito, mas só depois de casados. Por isso, tivemos que agir assim", conta. Stéphanie diz que suportou esses momentos sem o toque do marido com muita conversa, na qual os dois puderam falar sobre todos os assuntos relacionados ao momento sexual. "Sexo não é um tabu. Só quisemos esperar a hora certa para nós. Tanto que conversamos sobre sexo anal, sexo oral e eu sempre discuti esses assuntos com a minha mãe."

Para ela, esses papos foram decisivos para ter a certeza de que ele era o homem certo. "Não tive nada para descobrir sobre ele depois que nos casamos. Por não estarmos envolvidos fisicamente, pudemos pensar no casamento de forma mais séria, considerando as coisas pelo lado racional", completa. As descobertas ficaram apenas no campo sexual. Ela garante que o caminho para o orgasmo foi longo e trilhado pelos dois, mas que sempre teve em mente que poderia se abrir com o marido sobre qualquer tema.

A psicóloga Juliana Fiuza garante que é a cumplicidade do casal que direciona a obtenção de prazer na cama. Sejam os dois virgens ou vindos de outras experiências, é preciso haver sinceridade mútua para que os desejos, os fetiches e as curiosidades possam ser tratadas sem causar problemas. "Se eles têm uma abertura para falar sobre sexo, vão buscar formas de deixar a relação mais prazerosa." A estudante Nayane Tarão, 24 anos, afirma que não teme a primeira vez por saber que não chegará a ela sem total intimidade com seu futuro marido. Ela diz que o importante é não abrir mão do aprendizado que os dois podem ter antes de decidirem se tornar um casal. "Precisamos trabalhar juntos o que esperamos do casamento. Não há tempo certo para se casar, mas é preciso ter certeza da decisão e ter maturidade para encará-la", resume.

Nelson Júnior concorda que a espera não é simples, mas aponta que a virgindade não deve ser encarada com um fim em si mesma. "O sexo é bom e não valeria a pena se privar disso se não fosse pelo entendimento de que nós podemos desfrutar dele dentro de uma relação segura e protegida." Até porque, assegura ele, relacionamentos amorosos sem envolvimento sexual também podem ser traumáticos. Para os que decidem, todo o esforço demonstra que, de fato, o sexo é um presente. "Cremos nisso. Se existe um direcionamento de Deus, é porque ele quer guardar esse momento para a hora certa. Fui convencido, ao longo do tempo, dos benefícios de se esperar", afirma Otávio. 

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br

Mau Humor x Distimia


Livre-se do mau humor

O sentimento aumenta o risco para doenças cardiovasculares, reduz a imunidade e dificulta a concentração, entre outros prejuízos. Mas a ciência aponta os caminhos para combatê-lo

Cilene Pereira, Mônica Tarantino e Monique Oliveira

Sabe aqueles dias em que você acorda querendo brigar com a sombra, gritar com o filho porque ele derramou uma gota de leite na toalha da mesa e responder “bom dia por quê?” quando alguém simplesmente o cumprimentou? Você com certeza despertou sob o domínio do mau humor, esse sentimento tão familiar a todos e infelizmente cada vez mais comum. Embora para muitos possa parecer algo banal – sem repercussões além da própria cara feia e do incômodo sentido por quem está por perto –, esse estado de espírito traz muito mais prejuízos à saúde e à vida em geral do que se imaginava. Um crescente campo de pesquisas está revelando que episódios de mau humor causam no organismo danos importantes. “Ele provoca reações fisiológicas que resultam em diversos problemas de saúde”, afirma a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da seção brasileira da International Stress Management Association (Isma-BR), entidade voltada para o estudo e gerenciamento do estresse. Uma amostra do impacto pode ser observada nos resultados de uma pesquisa realizada pela instituição. De acordo com o trabalho, 85% dos indivíduos mal-humorados apresentam bruxismo ou rangem os dentes, 12% são hipertensos, 42% não têm boa qualidade de sono e 68% apresentam dificuldade de concentração. Além disso, eles sofrem o enfraquecimento do sistema de defesa do corpo, ficando vulneráveis ao ataque de vírus e bactérias, e mudanças metabólicas que contribuem para a maior contração dos vasos sanguíneos, o que eleva ainda mais o risco para doenças cardiovasculares.

Esses danos são basicamente consequência das mudanças provocadas pelo sentimento na química cerebral. Ele é uma resposta emocional a algo considerado uma ameaça ao bem-estar. Pode ser qualquer coisa: uma fechada no trânsito, um encontro com uma pessoa desagradável. Entendido dessa maneira, o cérebro se organiza para reagir a tal ameaça. Estruturas são acionadas e o resultado é a liberação em cascata de hormônios como a adrenalina e o cortisol. “Isso faz com que o corpo fique em estado de alerta máximo, com péssimo resultado para a saúde”, diz o neurologista Fernando Gomes Pinto, do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC-SP).

Existem consequências indiretas também. “O mau humor afeta os pulmões”, diz Ana Rossi. “Quando a pessoa está tensa por causa dele, a expansão pulmonar durante a respiração fica prejudicada. Há predominância da respiração torácica em lugar da abdominal, que é mais profunda”, diz a especialista. Segundo ela, isso faz com que o pulmão não funcione com eficiência. “Um dos resultados é uma sensação constante de cansaço”, explica Ana Rossi. Uma pesquisa da Universidade de Brasília com 64 trabalhadores da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, por sua vez, mostrou como o sentimento pode afetar a ergonomia no trabalho. De acordo com o estudo, a disposição inadequada dos elementos e ferramentas para a prestação de serviços leva a um ciclo de dores posturais e ansiedade, ao mesmo tempo causas e consequências do mau humor dos funcionários. “As localizações do guichê e da recepção de informação encontram-se inapropriadas. Os subordinados não conseguem encontrar os chefes nem os colegas”, descrevem os autores. “Há um predomínio da vivência do sofrimento com claros prejuízos fisiológicos individuais”, pontuaram.

Até aqui, está-se falando do mau humor normal, a que todos nós estamos sujeitos. Mas há um nível ainda mais perigoso: quando ele vira de fato uma doença. Nesse caso, recebe o nome de distimia. Trata-se de um mau humor que perdura por pelo menos dois anos, acompanhado por alterações do sono, do apetite (para mais ou para menos) e que encontra precedentes no histórico familiar. “Ela é um subtipo de depressão”, explica o psiquiatra Táki Cordás, do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Segundo o médico, acredita-se que as pessoas com distimia já tiveram depressão em algum momento do passado e ficaram com um resíduo. “A distimia traz prejuízos para as relações e é incapacitante”, afirma o psiquiatra Luis Felipe de Oliveira Costa, do Programa de Estudos de Doenças Afetivas (Progruda), do HC-SP.

O diagnóstico da doença é geralmente tardio. “A pessoa só vai procurar ajuda quando a vida já está muito comprometida”, explica Elie Cheniaux, pesquisador do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E, até esse período, o indivíduo já foi também exposto ao risco de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes e depósito de gordura abdominal (condição que eleva o risco para enfermidades cardíacas), entre outras questões. O cérebro também sofre. “Pode haver redução intelectual resultante de perda neuronal”, explica o psiquiatra Cordás. “O nível do hormônio cortisol fica muito mais alto, o que mata alguns neurônios”, diz. O tratamento é similar ao da depressão crônica. No entanto, há o registro de menos tolerância aos antidepressivos em pacientes distímicos. “Mas hoje já há opções bem mais toleráveis”, diz o psiquiatra Ricardo Alberto Moreno, também do Progruda. “Eles não afetam tanto a libido e as náuseas são menos frequentes.”

Não há uma resposta definitiva que explique, por exemplo, por que determinadas pessoas são mais mal-humoradas do que outras. O que se sabe é que, a exemplo de diversas outras características de personalidade, há o peso da genética e o peso do ambiente. Ou seja, filhos de pais marcadamente mal-humorados têm mais chance de manifestar o mesmo comportamento porque herdaram essa tendência e porque crescem em ambientes nos quais o sentimento predomina. “O mau humor é uma associação de temperamento, que nasce com você, com aquilo que você adquire com o meio”, resume o psiquiatra Cordás.

Mais recentemente, aprofundou-se uma linha de estudo que busca identificar outras causas para o mau humor. Descobriu-se que algumas doenças podem estar envolvidas no seu surgimento. A última pesquisa a revelar esse tipo de associação foi divulgada na edição de maio da publicação científica “Diabetes Technology & Therapeutics”. “Distúrbios de humor e sua relação com um controle ruim de glicose, que pode levar a sérias complicações causadas pela diabetes, é um tema de grande preocupação”, disse Satish Garg, da Universidade do Colorado (EUA). “Mas ainda não sabemos o que vem primeiro: se as oscilações de humor estão por trás da diabetes ou o contrário.” Um trabalho conduzido por cientistas da Universidade de Illinois (EUA) deu uma indicação de pelo menos parte da resposta. O estudo monitorou as concentrações de glicose em um grupo de mulheres portadoras de diabetes tipo 2 e concluiu que grandes oscilações da taxa de açúcar no sangue estão associadas a mau humor e baixa qualidade de vida, segundo escreveram os autores da pesquisa. Em outros casos, a relação está mais estabelecida. Um exemplo é a associação entre o hipertireoidismo e o sentimento. A hiperatividade da glândula tireoide pode deixar o paciente mais vulnerável a episódios de mau humor.

Todo o interesse pelo tema é resultante de uma importante constatação científica obtida nos últimos anos: o humor – neste caso, o bom – é mais vital para a nossa sobrevivência do que se pensava. Em primeiro lugar, ele foi uma das razões que possibilitaram a evolução da espécie humana, segundo uma corrente de pesquisas a respeito do assunto. No início do mês, por exemplo, cientistas da Universidade da Pensilvânia (EUA) divulgaram um estudo revelando que um bom senso de humor é uma das principais características procuradas pelas mulheres em possíveis parceiros – fator, portanto, que facilitou a reprodução humana ao longo das eras. “Essa característica pode ser entendida como um sinal de que o homem não é agressivo. A mulher entende que ele não a machucará nem à sua prole”, explicou à ISTOÉ Garry Chick, da Universidade da Pensilvânia (EUA), coordenador do trabalho. “E há pesquisas mostrando que os homens também gostam de mulheres que riem de suas piadas”, complementou o pesquisador. Na visão do psicólogo americano Peter Gray, professor do Boston College University (EUA), o humor também serviu como elemento agregador quando o homem ainda vivia em grupos. “Ele foi uma das maneiras encontradas para impedir brigas e discussões, ajudando a manter a paz entre os indivíduos e, consequentemente, a sobrevivência do grupo”, disse à ISTOÉ.

A outra razão vem da certeza de seu impacto sobre a saúde – tanto o mau quanto o bom. Se o primeiro, como demonstram as pesquisas, é bastante prejudicial, o segundo, ao contrário, é como um bálsamo para o organismo. Há uma profusão de trabalhos atestando seus benefícios. Na Universidade de Ohio (EUA), os cientistas concluíram que o sentimento está associado a uma melhora na qualidade de vida de portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica, caracterizada por dificuldade progressiva para respirar. Depois de analisarem as reações de 46 pacientes após assistir a vídeos divertidos, os pesquisadores concluíram que aqueles que exibiram maior senso de humor reportaram menos sintomas de depressão e ansiedade. “Acreditamos que os pacientes devem ser encorajados a participar de atividades que despertem o bom humor”, afirmou à ISTOÉ Charles Emery, líder do trabalho.

Na Austrália, cientistas da University of New South Wales verificaram os efeitos positivos na contenção de crises de agitação de pacientes com demência. Parte da equipe de cuidadores de uma instituição que abriga idosos com demência foi treinada para usar o humor no trato dos doentes. “Constatamos que o humor e a brincadeira, quando usados regularmente, reduzem os níveis de agitação”, informou à ISTOÉ Lee-Fay Low, responsável pelo trabalho. A mesma estratégia revela-se útil para reduzir o medo de dentista, conforme demonstraram cientistas da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, e também aumentar a tolerância à dor, como apontou estudo da Universidade da Califórnia (EUA). “Barreiras psicológicas podem ser quebradas pelo humor”, afirmou Jenny Bernson, coordenadora da experiência sobre o temor de dentista.

Ser bem-humorado ajuda até a memorizar melhor as informações. Esta foi a conclusão a que chegaram os cientistas da Universidade de Notre Dame (EUA) após experimento no qual acompanharam a capacidade de memória de 66 pessoas depois de terem sido expostas a desenhos animados. “Somos mais propensos a nos lembrar de coisas que achamos engraçadas. Isso pode ocorrer porque reagimos ao humor fisicamente”, explicou à ISTOÉ Alexis Chambers, líder da pesquisa. “Ele ativa áreas do cérebro importantes para o processamento das emoções e da memória”, complementou. A recomendação dos pesquisadores é usar o humor para auxiliar na memorização de informações. Uma das sugestões, por exemplo, é criar uma história divertida e embutir nela a informação a ser lembrada.

Diante de tantas evidências, é mais do que necessário tentar se livrar do mau humor. É verdade, porém, que, dependendo do dia, isso não é nada fácil. “Mas é preciso ter em mente que parte dele pode ser manejada”, afirma a psicóloga Mônica Portella, especialista em terapia cognitivo-comportamental (objetiva mudar padrões de pensamentos que resultam em comportamentos prejudiciais), do Centro de Psicologia Aplicada e Formação, do Rio de Janeiro. “É um trabalho constante. A pessoa mal-humorada precisa se monitorar”, orienta.

Além de disciplina, há estratégias simples que podem ser adotadas para trocar a feição ranzinza por um rosto alegre. “As pessoas podem passar 15 minutos todas as noites pensando em três coisas engraçadas que aconteceram durante o dia”, sugeriu à ISTOÉ Willibald Ruch, da Universidade de Zurique, na Suíça. “Se fizerem isso por um período, terão uma espécie de diário de humor ao qual sempre poderão recorrer quando quiserem melhorar seu estado de espírito”, complementou. Há dois meses, Ruch e sua equipe publicaram um trabalho segundo o qual treinar algumas capacidades – manter o bom humor e expressar gratidão, por exemplo – aumenta significativamente a sensação de bem-estar. E de felicidade.





Fonte: http://www.istoe.com.br/reportagens/234273_LIVRE+SE+DO+MAU+HUMOR