Vencendo tabus: falta de desejo sexual pode estar relacionada a fatores sociais
por Cristiana Veronez
A falta de desejo sexual nas mulheres é um problema mais comum do que se imagina. Amaury Mendes Júnior, ginecologista, sexólogo, secretário-geral da Sociedade Brasileira de Sexologia, professor e médico da UFRJ, explicou ao SRZD como funciona o desejo sexual da mulher.
De acordo com ele, possuímos duas especificidades diferentes de desejo. A primeira é o "desejo reflexo", que é a resposta ao estímulo de toque e pensamento. "A mulher vê uma cena ou sente um toque, por exemplo, e o sistema nervoso autônomo dela faz com que fique lubrificada. Isso não quer dizer, necessariamente, que ela está com vontade de transar", explica. A segunda especificidade é o "estímulo subjetivo", correspondente às ponderações que fazemos antes de decidir ou não por uma transa. "Será que vale a pena? Estou sendo usada?". As mulheres costumam pesar os prós e contras de se relacionar sexualmente com alguém.
A herança de uma tradição baseada na beatificação e dessexualização da mulher fez com que, muitas vezes, o sentimento de culpa bloqueasse a sua libido. A educação que teve em casa e as experiências que viveu ao longo da vida podem influenciar em sua sexualidade. De acordo com Amaury, "essas ponderações são incutidas na cabeça da menina desde cedo. É uma questão social". O homem, por sua vez, decide transar a partir do desejo reflexo. Ou seja, "para ele o que interessa é, principalmente, chegar ao gozo. A mulher transa, porque quer, e não pelo gozo", explica.
Assim, a partir do momento em que a mulher se incomoda com a falta de desejo sexual, "é preciso estudar o histórico sexual dela desde pequena. Quando era menina, ela se tocava? Ia ao ginecologista? Tinha interesse pelo próprio corpo? Explorava-se na frente do espelho? Coibia-se? Tinha medo?", conta. Encontrar estas respostas pode ser decisivo para entender a origem da falta de desejo.
Conversa é tudo!
Além do mais, conversar com o parceiro é essencial. Para Amaury, "sexo é o reflexo final de um relacionamento. É resultado de todo o seu comportamento e sua saúde. Existe um preconceito muito grande, uma ideia de que existem coisas proibidas. Sexo na cama é uma brincadeira de adultos. É preciso haver liberdade dentro de uma permissividade. Muitos casais não criam liberdade, não ousam, existe falta de conversa. A gente precisa estar sempre inovando, tentando uma coisa aqui, outra ali, para se descobrir, e descobrir o que o casal gosta de fazer junto". Ele explica que a masturbação na frente do companheiro, por exemplo, é tabu para muita gente. A mulher pegar na mão do homem e mostrar para ele onde ela sente mais prazer, nem se fala!
Fingir sentir prazer com o namorado ou esquivar-se de manter relações sexuais com ele é como privá-lo da realidade e até mesmo rejeitar o seu apoio. Portanto, uma conversa sincera e aberta pode, com toda a certeza, abrir portas para a resolução de qualquer problema.
A diminuição da libido pode estar associada a muitos outros fatores, como a idade avançada, desequilíbrios hormonais, infecção e depressão. É importante estar atenta a todos estes aspectos. Sexo bom é sinal de bom-humor, saúde e satisfação.
Fonte: http://www.sidneyrezende.com/
Para saber mais:
302.71 Transtorno de Desejo Sexual Hipoativo
Critérios Diagnóstico
A. Deficiência (ou ausência) persistente ou recorrente de fantasias ou desejo de ter atividade sexual. O julgamento de deficiência ou ausência é feito pelo clínico, levando em consideração fatores que afetam o funcionamento sexual, tais como idade e contexto de vida do indivíduo.
B. A perturbação causa acentuado sofrimento ou dificuldade interpessoal.
C. A disfunção sexual não é mais bem explicada por outro transtorno do Eixo I (exceto por outra Disfunção Sexual) nem se deve exclusivamente aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral.
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