segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Informativo - 19 set 2011

Uma vida sem sexo

O americano David Jay tem 29 anos e nunca sentiu desejo de fazer sexo. Nem hétero, nem homo. Ao falar sobre sua falta de interesse, Jay já enfrentou de tudo: recebeu olhares incrédulos, ouviu palavras de reprovação e piadas de mau gosto. E decidiu criar, em 2001, uma associação para reunir quem, como ele, não entende por que as pessoas se interessam tanto por sexo. Chama-se a Aven (Asexual Visibility and Education Network). 

Em entrevistas para rádios, TVs, jornais, Jay explica que a assexualidade não vem de um trauma, e que muita gente se sente perfeitamente feliz trocando beijos e carinho – e não mais do que isso. Jay diz que não há uma definição oficial de assexualidade e que tudo depende da experiência subjetiva do indivíduo. “Há coisas que faço, e que amo fazer, que outras pessoas classificarão como sexuais.” Ele gosta de carinho, por exemplo, e “aprendeu” a gostar de beijar. Mas qualquer carícia que se aproxime dos genitais não faz sentido para ele. Dá a ele uma sensação estranha, e não prazer.

A experiência de Jay com o sexo – ou com a falta dele – é uma das histórias narradas pela diretora Angela Tucker em seu documentário (A)sexual, que está participando de festivais nos Estados Unidos. Angela entrevistou diversas pessoas que se identificam como “assexuais” para entender seu comportamento – mas acaba fazendo todos refletirem sobre sua sexualidade e seu tipo de relações.

Uma das perguntas interessantes do documentário é sobre a diferença entre amizade e relacionamento. Jay questiona a ideia de intimidade que temos hoje: “A linguagem que usamos para falar sobre intimidade em nossa cultura é profundamente sexualizada. Para muitas pessoas ‘sexuais’, especialmente para as heterossexuais, há uma imagem de como a intimidade tem que ser e de que forma se deve conectar com as outras pessoas. Muito disso é baseado na ideia de que você tem que formar uma conexão realmente íntima com uma pessoa e isso deve durar a vida toda e envolver sexo.”

Para ele, é possível criar intimidade sem depender do sexo. “O sexo é um instrumento deficiente, uma maneira de monitorar e controlar a intimidade sem que as pessoas realmente precisem ir fundo no que faz a intimidade acontecer. O poder do sexo é fundamentalmente frágil.” O que ele quer dizer, com alguma razão, é que “usamos o sexo como atalho para a intimidade”, como afirma o artigo da Salon sobre o documentário. E, muitas vezes, esse atalho não leva a lugar nenhum, apenas a relações rasas, vazias.

E você já parou para refletir o papel do sexo nas suas relações? Já tentou imaginar como seria uma vida sem sexo?

Por Letícia Sorg

Artigo da Salon sobre o documentário
What asexuals reveal about sex 

 Documentário
 Asexuality: The Making of A Movement Trailer

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