domingo, 11 de setembro de 2011

Informativo - 11 set 2011

Ansiosos demais

Sentir ansiedade é natural - e até necessário. Mas há casos em que ela se torna um sério problema de saúde

por Maria Júlia Lledó



Reação natural e necessária à preservação da espécie, é a ansiedade que reforça nossa atenção frente a qualquer perigo. Por causa dela, tomamos cuidado redobrado ao atravessar um beco escuro ou ao dirigir na estrada. Ela também se faz presente um dia antes daquela prova importante, no dia do seu casamento ou no nascimento do filho. No entanto, a sensação que cada vez mais homens e mulheres de diferentes idades experimentam nada tem a ver com a ansiedade que sopra um inocente frio na barriga. Sudorese, taquicardia, tremores, calafrios, sensação de falta de ar, tontura e vertigem são alguns sinais de alerta para outro tipo de ansiedade: a patológica.

“O que nos dá indícios de patologia é quando a ansiedade deixa de ser funcional e passa a prejudicar a vida de alguém. É quando a pessoa está segura em casa, mas sente um medo exagerado só de pensar em sair para a rua. Nesse momento, o corpo emite sintomas (como os descritos acima)”, explica a psicóloga Cristina Moura. As causas para que a ansiedade tome grande proporção são diversas e bem particulares. O estresse, provocado pelo excesso de tarefas e/ou a má distribuição das horas destinadas ao trabalho e ao lazer, é apenas um dos fatores que podem transformar uma ansiedade normal em patológica.

No consultório da psicóloga Carolina Freitas, queixas quanto a relações afetivas, profissionais e sexuais têm contribuído para um quadro elevado de pacientes que sofrem por causa de ansiedade. “Como hoje os laços entre as pessoas estão menos estáveis, elas vivem mais sozinhas e distantes. A rede de apoio se tornou muito fluida, o que tem provocado mais ansiedade”, observa. Outro ponto que merece atenção, segundo a especialista, é a velocidade da rotina. “Tudo tem de ser para ontem. As pessoas estão priorizando a vida profissional em detrimento do cuidado consigo. Trabalha-se, ganha-se dinheiro, mas não há tempo para estar com amigos e familiares, nem de praticar uma atividade física ou alimentar-se de forma saudável.”

Nesses casos, é possível que a ansiedade exacerbada conduza o indivíduo à impotência diante de atividades antes consideradas por ele mesmo corriqueiras. Sendo assim, há necessidade de tratamento psicológico e até psiquiátrico. “A ansiedade patológica pode provocar transtornos (veja quadro) que impossibilitam a pessoa de ‘funcionar’, seja no trabalho, em casa ou nas relações sociais. Por isso, deve-se levar em consideração não só o acompanhamento terapêutico como também, em alguns casos, o uso de medicação com base num diagnóstico", enfatiza a médica psiquiatra Cláudia Guimarães.

Investir em qualidade de vida, autoconhecimento, meditação e outras ferramentas que possam ajudar na compreensão dos fatores que provocam ansiedade são imprescindíveis para a saúde. Mas não espere uma solução miraculosa. Não é possível acabar com a ansiedade nossa de todo dia. “Não há como eliminar a ansiedade completamente, mas há como torná-la não incapacitante. O primeiro passo é entender o papel da ansiedade na sua vida. Essa compreensão ajudará na superação da ansiedade e não na sua eliminação. Até porque num grau ‘normal’, a ansiedade é necessária ao ser humano”, tranquiliza a psicóloga Carolina Freitas.

Faça-se a luz
No começo do ano, pesquisadores da Universidade de Stanford (Estados Unidos) usaram a luz como tratamento para distúrbios relacionados à ansiedade. Na pesquisa, publicada em março pela National Science Foundation, a equipe de cientistas liderada pelo professor de psiquiatria Karl Deisseroth identificou duas vias principais do cérebro: uma que promove e outra que alivia a ansiedade. Ambas estão em uma região chamada amígdala, que, segundo estudos prévios, tem papel no desenvolvimento e no controle da ansiedade. O trabalho desenvolvido pela equipe de Deisseroth usa uma ferramenta chamada Optogenetics, que combina genética e ciência óptica para manipular seletivamente a forma como um neurônio é acionado no cérebro. Dessa forma, os cientistas podem manipular geneticamente neurônios específicos para montar uma proteína ativada pela luz, normalmente encontrada em algas e bactérias. Quando acionadas por certos comprimentos de onda de luz, essas proteínas permitem que os pesquisadores aumentem ou diminuam a atividade neuronal do cérebro e observem os efeitos desse processo em cobaias. Segundo Karl Deisseroth, a partir do entendimento de como a amígdala influencia na ansiedade, pode-se desenvolver tratamentos mais eficazes.

Saiba mais
Conheça alguns transtornos de ansiedade, segundo a classificação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. A psicóloga Carolina Freitas também sugere filmes que podem exemplificar cada caso.

- Transtorno de pânico: pode ser descrito pela ocorrência espontânea e inesperada de ataques de pânico, caracterizados por intensa ansiedade ou medo acompanhados de sintomas somáticos (taquicardia, dispneia, sudorese e palpitações são os mais comuns) com duração breve (geralmente menos de uma hora). Os sintomas mentais principais são: extremo medo, sensação de morte e/ou catástrofe iminente, medo de perder o controle, sendo o paciente incapaz de indicar a fonte de seus temores.
Filme: Alguém tem que ceder (Nancy Meyers, EUA, 2003)

- Fobia social: caracteriza-se por um medo excessivo de humilhação ou embaraço em vários contextos sociais, como falar em público, comer em restaurantes, usar toalete público, entre outros. A exposição à situação social ou de desempenho provoca uma resposta de ansiedade no indivíduo, podendo chegar também a ataques de pânico.
Filme: Sonhos de um sedutor (Herbert Ross, EUA, 1972)

- Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC): primeiramente, é importante entender que as obsessões são pensamentos, ideias ou imagens persistentes vivenciados como inadequados, causando acentuada ansiedade ou sofrimento no paciente. Compulsões, por sua vez, são comportamentos repetitivos, estandartizados e recorrentes, cujo objetivo é prevenir ou reduzir a ansiedade gerada pelas obsessões. Assim, as obsessões aumentam a ansiedade do indivíduo, enquanto a execução das compulsões reduz essa ansiedade. Exemplo: obsessão de contaminação seguida de lavagem compulsiva das mãos ou obsessão de dúvida seguida de compulsão de verificação.
Filme: Melhor é impossível (James L. Brooks, EUA, 1997)

- Transtorno de estresse pós-traumático: para ser classificado como portador desse transtorno, o paciente deve ter vivenciado um estresse emocional tão importante que seria traumático para qualquer indivíduo. Esses traumas incluem experiências de combate, catástrofes naturais, agressão física, estupro, acidentes graves, entre outros. O transtorno de estresse pós-traumático caracteriza-se por reviver o trauma por meio de sonhos e de pensamentos durante a vigília.
Filme: Nascido em 4 de julho (Oliver Stone, EUA, 1989)

Associação Americana de Psiquiatria, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Porto Alegre, Ed. Artes Médicas Sul, 1995

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br

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