Suicídio e gravidez na
adolescência
Por Jairo Bouer
Duas pesquisas recentes sobre comportamento e saúde dos jovens –
principalmente das adolescentes – chamam a atenção por dois motivos: abordam o
delicado tema da morte das garotas no mundo e divergem sobre qual seria a
principal causa dessa tragédia.
O primeiro estudo, publicado em junho na revista médica The Lancet,
esmiúça a questão do suicídio. Diz que é a segunda causa de morte de jovens no
mundo e a principal entre as garotas. O segundo, divulgado neste mês pela ONG
inglesa Save the Children, revela que a maior causa de morte das jovens são as
complicações decorrentes de uma gravidez precoce.
O suicídio na juventude foi sempre um tema espinhoso. Dizia-se que os
índices eram altos em locais como o Japão (em que os jovens seriam submetidos a
muitas exigências) e nos países nórdicos (onde o excesso de proteção social
causaria impacto na perspectiva de vida). Não se imaginava, porém, que o
fenômeno tivesse proporção planetária nem que transtornos psiquiátricos, como
depressão e dependência de drogas, fossem tão prevalentes entre os jovens. Nem
que estivessem tão intimamente ligados ao suicídio.
Instabilidades emocionais típicas da adolescência, contato precoce com
situações da vida adulta (como sexo) e imaturidade para lidar com questões
complexas são outros fatores que podem tornar a vida dos jovens uma mistura
explosiva. Uma sociedade que impõe padrões rígidos de desempenho, imagem e
consumo também pode contribuir para os suicídios.
Com relação à gravidez na adolescência, sabe-se que, em muitos países, como
o Brasil, houve uma redução importante do número de casos nas duas últimas
décadas. Mesmo assim, em cada cinco ou seis nascimentos no país, há uma
adolescente na sala de parto.
Quase metade planejou engravidar. Isso revela
como a maternidade representa um projeto de vida e uma esperança de
estruturação familiar para elas. Vale lembrar que problemas como diabetes,
pressão alta e complicações no parto são mais comuns no corpo de uma
adolescente. Cerca de 50% dessas gestações não chegam ao final por abortos
espontâneos ou provocados.
Mais importante que saber a principal causa de morte é pensar em estratégias
para identificar e tratar os transtornos mentais. Outro ponto é trabalhar a
prevenção da gravidez na adolescência.
Deixo duas questões. Será que o medo e o despreparo em lidar com uma
gestação ou com um aborto não podem desestabilizar o equilíbrio emocional e
contribuir para um maior risco de suicídio? Ou será que uma garota com a
autoestima abalada engravida para tentar achar um papel social? Talvez os dois
problemas estejam mais próximos do que imaginamos.
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